quarta-feira, 18 de dezembro de 2013


(Inês)
(Ele)

[…]
- Dá-me uma resposta simples ao que te perguntei.
- É o que estou a fazer.
- Isso é complicar quando eu só pretendo um sim ou não.
- Para responder a essa questão tenho de o fazer com uma precisão diferente da que tu queres. Dar-te um sim ou um não terminaria esta discussão mas não me deixaria demonstrar-te que não se pode entender a resposta sem primeiro compreender a pessoa. Tu vês em mim o homem que pensas que sou, só que eu quero que vejas além dos sentimentos que constantemente pretendes ter.
- Estás a dizer que não gosto de ti?
- Estou a dizer que não me conheces; estou a dizer que andamos a fingir durante tanto tempo que já não sabemos fingir ser outra coisa; estou a dizer que é bem mais complicado do que um sim ou não.

na floresta do desconforto

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Tudo na vida corre bem. Já não te lembras da última vez que tiveste uma discussão, o rumo a seguir surge claro na tua frente e avanças com companhia amiga, os diálogos absorvem-se uns aos outros, e com o tempo a vossa maneira de pensar fica cada vez mais igual, seguis o mesmo caminho tendes as mesmas conversas o que faz com que se diluam as diferenças entre os dois. Um dia, sem aviso, um período sombrio abate-se sobre ti. Descobres que como já ninguém trazia algo de novo à equação, esta simplesmente estagnou, tornou-se uma rotina incómoda e constrangedora. Inatamente continuas a persistir, a acalentar a direcção que levavas, até ao momento em que aprendes que é necessário superar, crescer, tornar mais forte, mais inteligente, melhor, incluir algo novo, diferente; queres experiências distintas de ti que adensem o diálogo com os que te rodeiam; é necessário um fervilhar de vida de modo a não cair na apatia; assimilas que não podes continuar como se a vida fosse uma equação estática mas um constante incluir de incerteza que te ateia a chama desafiando a entrar pela floresta do desconforto ardendo tudo quanto tocas. 

terça-feira, 17 de setembro de 2013

(Inês num diálogo com os pais)

- Desapareces-te por completo, parece que já nem precisas de nós para nada.
- Não é bem assim. Ao início era só estar lá a trabalhar mas com o passar do tempo fiz amigos, comecei a conhecer a cidade com os seus recantos e humores escondidos. Agora é tão familiar lá como aqui. Tenho duas casas, esta é o passado-e-o-presente e lá é o presente-e-o-futuro. Torna-se impossível não abandonar uma para estar com a outra. 
- Não quero saber de nada disso. Vens mais tempo a casa ou faço as malas e vamos para lá viver contigo.

Um propósito à tua espera

sábado, 24 de agosto de 2013

Tenho andado desaparecido do blog porque as férias levaram o meu cérebro para o ritmo da preguiça. No entanto fui tendo rasgos de inspiração para retomar a escrever o livro e cá fica um trecho que estou a trabalhar de quando a Inês anda desiludida com o caminho que a sua existência leva:

(Mãe)
(Inês)

- Com a passagem de algum tempo surge sempre alguém na vida que volta a dar sentido às relações e te faz esquecer o que sofres agora. Anda para a frente e acaba por aparecer alguém melhor.
- Achas que é assim, encontro alguém só porque sim?! Com o rumo que tem sido a minha vida o que vai acontecer é que nunca mais vou encontrar quem me agrade.
- Encontras porque é assim que as histórias acontecem. Nós pensamos que não mas depois acontece algo ou aparece alguém que finalmente se encaixa de modo perfeito no nosso quotidiano.
- O que cada vez mais me parece é que as pessoas acabam por se acomodar a uma vida ou a alguém de modo a não ficarem sozinhas.
- Ó filha! Eu e o teu pai não te teríamos dado a tua educação se não soubéssemos que eras capaz de aguentar a lucidez que ganhaste em relação ao mundo. E as pessoas interessantes reconhecem-se umas às outras quando estão num mesmo espaço. Sai relaciona-te e o dia vai chegar onde vais pressentir que esse momento está a acontecer.

domingo, 2 de junho de 2013

(Ele)
(Ela)

- Inês, tu acreditas no amor? Não no amor poético que te distrai da realidade, ou no romantizado em dramas de emoções constantes, mas aquele momento de lucidez que uma pessoa sente quando finalmente encontra o seu lugar no mundo e é sem esforço que se move entre a multidão e com a coragem das suas convicções, caminhando em direcção ao destino por si escolhido.
- Podes simplesmente parar de falar e beijar-me? E sorrir-me de forma ternurenta? Não preciso de pensamentos metafísicos o tempo todo. Existem alturas em que sabe bem ter-te só aqui abraçado a mim.