sexta-feira, 30 de julho de 2010

Inês deixava a caneta fluir no seu pequeno caderno de confidências diárias:
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Estou fatigada! Exausta de procurar afeições e não as encontrar, nesta sede insaciável de uma busca constante e inútil. Acordei a manhã de sábado a chorar, e chorei até à tarde, depois dormi o fim-de-semana para não ter de passar por ele. Sinto que tenho percepção de tudo. É completamente extraordinário que as pessoas possam habitar os dias quando não têm nada em que acreditar, nada que lhes suplante o ego, que as projecte além de tudo quanto é fútil. De todas as vezes que abro os olhos só os quero fechar, não consigo olhar nada sem sentir a dor de não acreditar, de nada mais ver além deste imenso vazio. Posso preenchê-lo de mim, deixar-me levar, ser consumida, e será completo em si mesmo, total pela minha plenitude.
Sim fugi. Fugi da rede social para me encontrar. E quanto mais procuro mais me sinto uma alma perdida, quanto mais perscruto o íntimo de mim mesma, mais me rendo à evidência de que sou um amanhã incerto, completamente instável e à mercê de um fado rouco, deambulado nas ruelas noites frias que auguram a amarga névoa no acordar do dia a nascer.