domingo, 9 de maio de 2010

o gélido sentimento corria-lhe as veias, gritando uma dor aguda nas nervuras da mente.
a sua alma aprisionada, a sua natureza delicadamente suspensa no abismo sombrio do débil sonho dilacerado do lacrimejar os trilhos de uma vida subjugada à asfixiante e cada vez mais soberana certeza de que estava só. só! só! refém da impossibilidade de encontrar noutro ser humano a lucidez com quem se poderia conectar, de realmente vislumbrar alguém que a desnudasse, que a compreendesse, que lhe soubesse o valor resguardado além do reflexo nos espelhos do quotidiano.
a música tocava alto. os ladrilhos na vidraça vibravam na intensidade arrebatadora de um explodir da funesta cárcere nos recontos carcomidos de um cálice derramando o espírito que se movia ao sabor das teclas da obra centenária no abandono nos primeiros raios nocturnos de um luar oprimido.
sorvia o piano, gesticulando as notas, naquele aceno comum do contemplar  a melodia, na arrebatada vontade de ser una com os sentidos que a deixavam nefelibata, alienada à veracidade da consciência, perdida em instantes de tempo num sufocante ar veranil…


r.


Estava exausta! Apenas exausta! Era aquela mágoa de inutilidade debruçada sobre a realidade de uma noção de amor deslocada dos alvos da sua afeição. Quase se deixava cair na rotina de acreditar cada vez menos em romances profundamente destemidos…
Resguardava a quietude dos dias em que o sentimento derramava lágrimas, enxaguadas ao segredo sensível que eram dele, e por ele, na ausência de missivas ao seu afecto.
 À sua presença, a melodia cingia-se a uma só palavra não proferida, ao anseio da cumplicidade de um olhar, de uma proximidade onde os aromas da paixão intensificavam as lembranças de uma carícia, de uma ternura intuitiva debruçada sobre o seu saudoso peito.
O tempo passava, e as memórias diluíam os seus nomes entre as sombras do ressentimento e as brisas de esperança num reacender do que sentiram um pelo outro.
Permanecia em si a esperança, de um encontro, de uma semelhança a um beijo dele, que nunca esqueceu.
 
escrito pela mais bela das princesas, e nutrido pelo seu devoto súbdito.

there she is

segunda-feira, 3 de maio de 2010

ele contemplava inês vagueando os corredores, colhida à luz radiante que transpunha da janela. a sedutora presença nutria-lhe a delicadeza de um tecer de olhares no romance proibido. ele sabia-a enamorada. ela tinha-o visto na intimidade de uma relação diária. as teias do destino unia-os na impossibilidade de serem amantes. – is this cruel acceptance, that i’m falling in love with you. and i don’t know what to do.
– …
– olá